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CURTAS ESTÓRIAS

Por Mouzar Benedito

“Tem o meu caso. É diferente de vários outros motivos de escrever mas é comum: escrevo por desespero. Por puro e intenso desespero. Nada mais do que isso. Escrevo estorinhas curtas sobre a luta de classes, sobre o absurdo da exploração, da devastação - que para mim são palavras sinônimas - e da vida invisível dos sem nada, nem esperança.”


O texto acima é um trecho do livro CURTAS ESTÓRIAS, de Virgílio de Mattos, amigo e companheiro de muitas militâncias. Escrevi o texto para a orelha do seu livro e reproduzo abaixo:


Virgílio de Mattos é um poeta. Dos bons. Poeta de verso e prosa. Como? Li poemas dele e agora leio textos, em prosa, como se estivesse lendo poesia.

É que poesia, pra mim, é algo que vai fundo, que provoca, incomoda. Se leio um poema e vou em frente, sem me sentir tocado por ele, não me parece poesia. Cito sempre Drummond, quando escreveu “Tinha uma pedra no meio do caminho”. Houve quem achasse genial e quem achasse ruim demais, até protestando: “Isso é lá poesia?”. Pois é, ninguém ficava neutro diante desse poema provocador. E os textos do Virgílio nestas “Curtas Estórias” incomodam, grudam na mente. Seja quando falam da luta de classes, “do absurdo da exploração e da devastação, e da vida invisível dos sem nada, nem esperança” ou também de paixões, das vidas dedicadas a uma causa, dos lutadores, de acontecimentos de tempos passados, de marginais ou marginalizados, eles incomodam. Grudam. Fazem pensar.

Não podia ser diferente.

Conheci o Virgílio há mais de duas décadas, quando o governo mineiro, pressionado por Movimentos de Direitos Humanos, criou a Ouvidoria de Polícia, para a qual foi nomeado meu amigo José Roberto Gonçalves de Rezende, amigo dele também.

Criou-se a Ouvidoria, com status de secretaria de Estado, mas não lhe deram estrutura, suporte adequado. Nosso amigo ouvidor recorreu às vezes a trabalhos voluntários. E lá estava o Virgílio, advogado e professor universitário, trabalhando voluntariamente por uma causa, a de Direitos Humanos dos desvalidos, dos invisíveis, vítimas de opressão do capital, do Estado e da polícia de ambos.

Depois, passei a acompanhar sua militância, suas visitas a presídios masculinos e femininos, dando conforto e oferecendo sua solidariedade ativa, assim como sua participação firme na luta antimanicomial. Não poderia mesmo ficar olhando passivamente o sofrimento dos pobres de vida invisível, as injustiças o aumento da desesperança.


Ouso dizer, pretensiosamente, que tenho algumas semelhanças com ele nessa questão, inclusive quando ele escreve também de um tipo de vítima que se põe ao lado do algoz, identifica-se ideologicamente com ele. O sem nada metido a com tudo. Ele tem e eu tenho desprezo por esse tipo.

Ler seus textos, coisa que não fiz de uma enfiada só porque quis ficar ruminando cada um, me evocou lembranças e sentimentos. A elefanta que se tornou heroína em Niterói me levou ao tempo de criança, quando, morando no Sul de Minas, ouvia falarem dela com admiração). Sentimentos, pela sua postura nas ações e no ato de escrever.

Nestes tempos em que a desesperança torna-se regra, ele confessa porque escreve: “Por desespero. Por puro e intenso desespero”.

Que seu desespero encontre eco nos leitores, e incomode, provoque, cause reações. E ações.


Quem quiser entrar em contato com o autor e/ou adquirir o livro (de cem páginas), aí vai o e-mail: curtasasestoriasgmail.com

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