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Ambição política leva Ciro Gomes a torcer desesperadamente por Bolsonaro

Atualizado: 26 de set. de 2022







Por Norian Segatto


POSSÍVEL VITÓRIA DE LULA É PESADELO PARA

AS PRETENSÕES FUTURAS DE CIRO GOMES



O debate entre os candidatos à Presidência ocorrido no SBT sábado (24.set) foi digno dos piores programas de auditório da emissora de Silvio Santos, aliado desde o primeiro momento de Jair Bolsonaro. Sem a presença de Lula, líder nas pesquisas, o palco montado serviu para todos criticarem a “corrupção do PT”, deixando Bolsonaro em uma situação extremamente confortável para repetir o único bordão que tem, “meu governo deu 600 reais de auxílio”.

De parte dos jornalistas escalados para fazer as perguntas aos candidatos também não se viu muita ousadia para tratar de temas considerados polêmicos, como o envolvimento da família do presidente com milícias, rachadinhas, compra suspeita de imóveis, crime contra a humanidade, corrupção na compra de vacinas e outros tantos temas “espinhosos” para o atual ocupante da cadeira presidencial.

Se nada podia se esperar de candidatos como o padre que não é padre (Kelmon), o engomadinho do novo (d´Ávila), com ideias do século 19, ou Soraya Thronicke, alguns ainda guardavam remota esperança em Ciro Gomes. E o debate serviu para mostrar qual é o jogo de Ciro nesse pleito.

O candidato do PDT, que já foi da Arena ao PSDB e PPS, sempre cultivou um inflado ego e superlativa avaliação de si próprio. Homem de falas elaboradas e planos simplistas, Ciro ainda não superou ter sido preterido na eleição de 2018, e guarda em relação ao PT ódio talvez só superado por Bolsonaro e seus apoiadores de extrema direita.

Ciro sabe que não tem a menor chance de ir para o segundo turno; sabe que parte de seu eleitorado votará em Lula, caso haja segundo turno – talvez até no primeiro. Sabe, também, que uma eleição mais acirrada, em termos de votos, entre Lula e Bolsonaro, favorece o atual presidente e a tentativa golpista de deslegitimar as urnas eletrônicas. Sabe, por fim, que um eventual governo Lula pode enterrar de vez qualquer sonho de Ciro vestir a faixa presidencial.

Ele tem 65 anos, a próxima eleição, em 2026, será provavelmente sua última chance de disputar a Presidência. Para seu desespero, pelos projetos que defende, dificilmente um novo governo do PT será pior do que o desastre que vivenciamos desde 2019. Mesmo que em 2026 Lula esteja em idade avançada para tentar uma reeleição, o sucesso de seu governo será a pá de cal nas pretensões palacianas de Ciro Gomes. Ele sabe disso e no seu cálculo político resta torcer desesperadamente para Bolsonaro ser reeleito, continuar a conduzir o Brasil para o completo desastre e, assim, tentar fazer o que não fez nos últimos anos: se cacifar como uma alternativa de fato. Um bem-sucedido governo Lula fará a tênue lamparina de sua figura pública ficar completamente ofuscada; melhor, avalia Ciro, deixar o país às trevas.

Ciro não vai vencer, mas poderia não ter saído derrotado dessa eleição caso sua arrogância e ambição política não o impedissem de ser um político à altura que ele acredita ser.

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Foto: BRUNO ESCOLASTICO/PHOTOPRESS/ESTADÃO


Norian Segatto é jornalista, escritor, fundador e editor executivo da Limiar. Autor de Crônica de uma ilha vaga (2011 - Limiar) e A estrela do abismo (2019 - Limiar), coautor de Por trás da máscara (1996 - Publisher Brasil), Djalma Santos, do porão ao palácio de Buckingham (2013 - Amazon book), além de organizador de diversos títulos e participação em coletâneas, como Corpos - contos eróticos.


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