Por Ieda Estergilda de Abreu
No livro Poesia Provisória, ed. Radiadora, Fortaleza, 2019, Nirton Venâncio, também cineasta premiado, roteirista, professor de literatura e cinema, ponteia o provisório como quem sabe do jogo da vida. De início, já avisa, se posiciona:
Declaro para os devidos fins
que sou poeta.
Não declamo versos:
reclamo em versos. (De Clara Ação)
No poema PARÁFRASE, reverencia e é com leveza que se encosta em Drummond:
Quando nasci, um anjo invocado
desses que vivem nos sertões
disse: Vai Nirton! Ser artista na vida.
…
Eu não deveria te dizer
mas esse calor
mas essa poesia
botam a gente desprovido como sempre!
Em Afeto, celebra o humano, o real como se deve:
O afeto educa os filhos,
direciona os amantes
conserva os amigos.
O afeto sinaliza a volta,
retoma o lugar perdido,
estabiliza o presente.
Ao contrário da dor, é o afeto que rima com amor.
Com o livro Roteiro dos Pássaros, ganhou o prêmio Filgueira Lima de Poesia. Dois dos seus curtas-metragens foram premiados em festivais nacionais, colabora também em revistas e periódicos culturais do Brasil e Portugal. Sua lírica é uma busca pelos contornos exatos, a síntese para a oferta profunda:
MALOGRO
Não sei nadar
nem andar de bicicleta.
Mas sei
abraçar
caminhar ao teu lado
e escrever poemas para atravessar os dias.
Para alguma coisa servem as minhas inutilidades.
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Ieda Estergilda de Abreu é escritora, jornalista free lance, natural de Fortaleza (CE), mora em São Paulo desde 1975. Escreve poesias, crônicas, algumas histórias, já fez resenhas para a Global Editora, revistas Bons Fluidos, Bodisatva, Jornal do Escritor (UBE-SP). Publicou: Mais Um Livro de Poemas, Grãos, A Véspera do Grito e O jogo do ABC, poesias.
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